domingo, outubro 02, 2005

O Príncipe Atrapalhado

Ora, e qual não era a surpresa do príncipe ao encontrar, em meio à selva urbana, o palácio da princesa, o castelo encantado de tão belo e formoso ser?

Timidamente ele abre as portas de tal moradia - não sem antes bater com cuidado, um dia de cada vez, até que alguém finalmente notou sua presensa e permitiu que ele ali entrasse - contemplando tal moça, perdida em suas divagações.

Perdida? Tola palavra, péssima escolha. Só ao adentrar no magnífico palácio particular pôde entender a infelicidade na escolha de palavras diante da face da lady, a qual ela de longe e, muitas vezes até mesmo de perto, muitos não tinham o deleite de contemplar.

Ora, sendo enlaçado por tal ambiente e o que mais o rodeava, como não ficar enfeitiçado e consumido por um desejo sublime de, em retribuição ao momento que lhe fora concedido, compartilhar com ela seus domínios, seu campo de viagens, o lugar no qual sua mente voa e liberta-se das amarras do cotidiano e torna-o um rei de sua vida, soberano de suas vontades e príncipe de tudo o que pudesse ver?

Mas, tal qual o título que o precede, o príncipe era atrapalhado. Preocupou-se mais com o que seus olhos estavam enxergando, do que com o que realmente sabia, as coisas que viveu naquele período de tempo, as palavras que a doce voz de sua musa proferia e o significado delas.

Ora, o príncipe se preocupou em respeitá-la, não ofendê-la. Afinal, para ele uma mulher daquele nível, moradora convicta de tal estrutura, dona de uma distinção sem igual, tinha um orgulho e senso de liberdade à altura. E, por mais que o senso de cavalheirismo falasse mais alto, o príncipe não queria que ela se sentisse inferior a ele, tampouco ser superprotetor. Temia que ela de alguma forma se sentisse acuada, perdesse seu espaço para sua presença e, tal qual um príncipe moderno que trocou seu cavalo branco pela boa e velha Harlley, seguiu em frente tendo em mente que não desrespeitaria os seus (dela) princípios.

Com muito custo - e muito do que chamamos de Lábia - o príncipe a convenceu a visitar o seu espaço, seu "palácio". E como eram vastos os domínios do príncipe, isso ela pôde descobrir e se surpreender. Estendiam-se desde os prédios antigos - e muito bem conservados - do Centro do Rio de Janeiro, aonde ela teve a surpresa de descobrir desde o Convento de São Bento, até o que ainda perdurava da zona boêmia carioca, a famosa Cinelândia e seus prédios antigos, teatros tomados por prédios, restaurantes aonde haviam antigas construções que bravamente resistiam, passando pelo majestoso Museu de Belas artes.

Não obstante, ela pode admirar a beleza do Passeio Público e as palavras imortais de Antônio Conselheiro, representadas pelo Aterro do Flamengo, até contemplar o seu - e de tantos outros - castelo particular, também conhecida como "Casa de Getúlio".

A caminhada pelos seus domínios exauriu suas forças e, cordialmente, o príncipe a convidou para um "jantar nos tempos modernos", com direito a igualdade de condições. Reabastecidos e visivelmente animados, continuaram o trajeto, adentrando no palácio que na verdade era um museu, pertencente à República.

Tal qual a princesa fizera em seu palacete, o príncipe repetiu. Convidou-a para adentrar em seu mundo de sonhos, seu recanto de memórias não-esquecidas. A ela, compartilhou seus prazeres de juventude, suas memórias ali guardadas, explicando por que outrora alguém chamara tal lugar de "a ilha dos sonhos esquecidos", no qual cada príncipe e princesa abandonava a caoticidade da vida moderna e se entregava aos seus sonhos, depositando ali toda vontade, toda esperança, toda alegria e todo sentimento, dando-se ao luxo de navegar livremente pelos trajetos de suas imaginação, direito muitas vezes facilmente arrancado de cada um deles - e por que não dizer, nós - pela frieza da realidade e verocidade de cada dia. Trouxe a tona memórias antigas de tal forma que até ela pôde enxergar, compartilhar.

Em sua simplicidade, o príncipe mostrou para sua princesa por que é capaz de sonhar.

Inebriados com o ambiente, sua orquestra particular se fez presente, completando o ambiente com o melhor da música latino-americana, indo além dos tímpanos, atingindo a alma, tal qual sua própria musa comentou - para sua alegria - sobre a forma como tocava em seu peito.

Pondo-se o Astro-Rei, era chegado o momento da despedida. Adentrando na caravana metálica coletiva, cada um deles ocupando-se de garantir o seu direito à locomoção e, ao fim disso, tratou de garantir que ela tomasse seguramente o seu destino.

E, ao se despedir, pôde contemplar - não o que esperava - mas a verdadeira expressão da princesa. Não de tremenda felicidade mas, - por que não dizer - de preocupação e tristeza.

Como ele saberia? Como iria saber? Ficaria se perguntando o que houve, o que deu errado, onde errou.

Não saberia, a não ser que ela lhe contasse. Pois, em sua ânsia de agir de acordo com o que observara e não totalmente com o que ouvira, o príncipe procurou respeitá-la. Como iria descobrir que, em suas doces palavras, a princesa deixou escapar que queria ser agraciada? Talvez ela tenha dado a entender tal coisa, talvez tenha dito com todas as letras, a questão era de que de tal coisa, ele não se tocara: ela queria ser com delicadeza tratada. Era uma dama, uma moça e, durante todo aquele momento, havia enxergado os domínios dele assim como ela enxergava seu castelo de cristal. Não teria se ofendido se ele aflorasse seu cavalheirismo, seu jeito protetor.

Não se ofenderia em ser tratada com todos os carinhos e mimos, com todas as regalias e diversidades.

Não que isso significasse que abrisse mão de seu orgulho, de sua dedicação, de sua liberdade e independência em prol de uma pessoa. Longe de seu castelo enfrentava a dura tempestade que atingia furiosamente a selva urbana, jogando na cara de cada um a frieza que a cerca, merecendo o título de "tempestade das ilusões".

Mas, por ele, não se sentia incomodada em ser tratada assim, como um ser que precisava de cuidados.

Por ele, e somente por ele, não se importava em ser tratada como uma princesa.

João Olinto
01/10/2005

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ei Joãozinho, vc realmente parece adivinhar meus gostos né ;p!!!!
Pode deixar q eu sempre vou vir aqui comentar, adorei muito mesmo viu!!!
beijão

9:48 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ç.Ç
que boniiiiiiiiittttoooooo
*TTT__TTTTT*

nossa Lexas, cada dia melhor! Aliás, fazia tempo que não lia algo seu *rsrs, perdão!*, gostei muito!

Ahh. e o flog é hiper divertido ^^ Principalmente o nome *COF-COF* hahahah

Te adoro!
Boa semana
Beijos

7:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

Aeeee! Postou! Muito bem!

Adorei seu texto ^-~


Bjaum.

9:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nhá... As fotos são lindas... Você nasceu para escrver, só pode! Nunca vi alguém conseguir "jogar" tão bem com as palavras assim...
Um dia ainda chego no seu nível, você vai ver!!! Vou me esforçar bastante!!
Kissu!

9:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ahh! Lindo^^ nao sei se as imgs dao um toque magico ao texto ou o inverso. Acho q os dois sao magicos^^ Bjins!

2:14 PM  

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